segunda-feira, 24 de maio de 2010

AS PALAVRAS E OS ATOS

Fui motivada a escrever após ler artigo do colunista Paulo Sant’Ana: “O sofrimento das professoras”, onde trata da dura realidade vivida por nós, educadores, dentro e fora da escola pública. O fato narrado em que, uma diretora de escola foi violentamente agredida por uma mãe de aluno no Rio de janeiro, permite termos a dimensão do quadro de pressão e de sofrimento a que estamos submetidos diariamente. Entretanto, das autoridades ouve-se outra coisa. Todos dizem defender a educação. Não poupam palavras para dizer que educação é prioridade. Infelizmente, há um fosso entre as palavras e os atos.

O fato é que a escola pública está sucateada. Prédios caindo aos pedaços, sem a mínima estrutura para ser um ambiente de trabalho, onde falta até material didático. Sobrevivemos com salários aviltantes e ameaçados, permanentemente, perda de direitos. Alheio a tudo isso está o poder público, omisso às suas responsabilidades para com os cidadãos.

Mas, de onde vem a violência contra “as professoras”? Há décadas, o Estado vem oferecendo um serviço público precário. E isso não é “privilégio” da área de educação. O sucateamento dos serviços do estado chegou a tal ponto que, nos dias de hoje, para grande parte da população, a escola é o único acesso que se tem com algo que seja público. Essa é a razão pela qual inúmeros problemas sociais das mais variadas naturezas estourem na escola que se transformou num pára-raios da sociedade. E por isso estamos vendo os crescentes atos de violência dentro da escola.

Assim, são despejados todos os tipos de problemas sociais sobre os educadores. Problemas que, muitas vezes, temos pouca ou nenhuma condição de resolver. Corrigir tudo isso passa, evidentemente, por atender a população com a dignidade que merece em todas as áreas. Queremos escolas descentes, com profissionais que possam viver dignamente de seus salários.


Mas isso não basta. Precisamos de serviço público de qualidade, em todos os segmentos e níveis, principalmente para a classe trabalhadora, que é quem mais necessita e não tem recursos para pagar. É dever do poder público garantir educação, saúde e segurança aos cidadãos. É na escola que os problemas aparecem. Urge que as autoridades voltem as atenções para este importante espaço público, sob pena de todos sermos sucumbidos pelo vandalismo e barbáries existentes na sociedade e que na escola se refletem diretamente. Não dá mais para continuarmos assim. É preciso passar das palavras para ações concretas. O momento é de engajamento em busca de soluções para os gravíssimos problemas por que passa a escola pública atualmente.



                                                                                                                                     Denise Goulart
                                                                                                   Professora da rede pública do Estado

Um comentário:

  1. Denise, perfeito teu artigo. Realmente os atos não condizem com as palavras. Uma pena!! abs, Eliana

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